quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Um bicho chamado Ansiedade

Há uns tempos atrás comecei uma rubrica chamada : Ufa por momentos tive sentimentos. Admito que ainda só escrevi uma vez nesta rubrica, mas tendo em conta que vou falar de algo relacionado com sentimentos, neste post, achei que seria pertinente falar nisso.

Há cerca de oito meses atrás, sem razão aparente, fui de viagem num autocarro para Fátima. Uma hora e meia de caminho tornou-se na pior viagem que já fiz na minha vida, porque enjoei e vim sentada na escada perto do wc a viagem toda. Na volta - e ainda bem, agora que penso nisso - vim a conduzir de carro (o que fez com que corresse tudo bem, visto ter sido eu a conduzir).

A partir daí tudo descambou... enjoos cada vez que entrava num carro ou autocarro (a tal ponto que toda a gente com quem eu falava dizia logo de caras que eu estava grávida). Daí espalhou-se para todo um problema geral no sistema digestivo. Basicamente e para deixar uma ideia, a minha vida passou a ser num wc. Fui ao médico por diversas vezes e entre urgências no centro de saúde, a urgências no hospital, a consultas na médica de família, fiz uma porradona de exames (entre suspeitas de problemas de vesícula, a estômago, a apêndice, infecções urinárias, enfim...) e tomei medicamentos para cada um dos sintomas que apresentava.

Fui de comboio (o único meio de transporte onde me sentia confortável) passar umas férias no Algarve com amigas minhas (a ideia de estar com as amigas foi bem sucedida, mas confesso que não aproveitei nada da praia porque fiquei quase sempre por casa por me sentir desconfortável), mas quando voltei (e mesmo com imensas hipóteses de ir à praia com a família e até ter de viajar para Trás-os-Montes para o casamento do meu primo) não sai mais de casa. Quando o fazia simplesmente sentia-me mal e voltava mais cedo para casa ou ao último minuto cancelava os meus planos porque me tinha sentido mal (às vezes mesmo enquanto me arranjava para sair).

Surgiram então os ataques de ansiedade. A ideia de me sentir mal e não ter wc por perto ou a ideia de estar longe de casa se me sentir mal ou situações onde normalmente os nervos já são um adereço normal (como entrevistas de emprego ou provas de conhecimentos para as mais diversas áreas) deixava-me/ deixa-me com um nó no peito, com a sensação de falta de ar, com uma sensação de impotência (por muito que saibas que estás a respirar e que não há razão para estar assim desesperada e para chorares, o teu corpo não aceita essas 'desculpas' porque quem manda no momento é o teu sistema nervoso e ele sim toma conta de ti tanto a nível físico como mental). A tua cabeça fica pesada e só pensa que se te mexeres e se te atreveres a 'desobedecer' ao teu sistema nervoso, vai-te acontecer algo de muito mau - que te irá certamente acontecer a coisa que mais receias na tua vida. É a sensação de que alguém te agarra num abraço sufocante e decide que sem te largar é uma boa altura para mergulhar contigo num oceano e não te deixar vir à superfície para respirar. Sentes-te presa e encurralada a um momento que sabes que é absurdo mas do qual não consegues escapar. As palavras são difíceis de conjugar e mesmo que tentes falar a falta de ar que sentes e as lágrimas que escorrem pela tua cara, tornam a tarefa extremamente difícil. O pensamento que mais pensas é : controla-te, controla-te, controla-te, mas no momento essa é a tarefa pior de se executar e existem outras coisas que te vão passando simultaneamente na cabeça que não te deixam 'ver' as coisas claramente. Quando finalmente e como por milagre (acho que é porque o corpo está esgotado e entra em 'shut down') sentes que te consegues mexer lentamente e consegues falar e que as lágrimas não escorrem mais pela tua cara, mas sabes que o peso do cansaço do 'episódio' vai ficar no teu corpo durante dias como se tivesses sido atropelada por um caminhão e tenhas de pedir autorização para te conseguires mexer ao ritmo dito normal. Há uma descarga emocional envolvida no processo que 'acaba' com a pessoa.

O problema é que com os ataques de ansiedade, os sintomas físicos de enjoar, ter dores de cabeça frequentes, ter imensa sonolência, ter cólicas e sentir necessidade urgente de ir a um wc pioram. A pedido dos médicos, e para melhorar os sintomas físicos, mudei ainda a minha alimentação de modo radical (não como legumes, fruta - aparte da banana e maçã cozida -, fritos, doces - excepto chocolate preto -, pão com excepção de carcaças, frutos secos, cebola, iogurtes, bebidas alcoolicas, enfim... ) e eventualmente emagreci 15kg em seis meses (mesmo sabendo que precisava de perder os kg saber que aconteceu porque fiquei assim e não porque o quis fazer não me deixa contente).

Neste momento posso dizer que embora esteja sem enjoos o que contribui para poder deslocar-me de carro, os outros sintomas mantém-se e aparecem de forma inesperada (mas não de forma tão frequente como antes), o que fez com que comece os próximos dias medicação para a ansiedade. É algo que assusta, não vou mentir. Drogas que mexem com o nosso sistema nervoso e que podem de um modo geral alterar a pessoa que tu és, assusta. Mas chega a um ponto em que os próprios ataques de ansiedade não te deixam ser quem és e quem gostas de ser para os outros. A tua vida social (e não falo de copos com os amigos mas mesmo aqueles momentos em que queres estar simplesmente lá para os teus amigos e familiares) é afectada enormemente e o vazio que te deixa no peito cada um dos ataques de ansiedade são coisas que preciso de ultrapassar.

Durante estes dois dias tive a pensar se escrevia ou não este post. É algo pessoal é verdade e é algo que afecta aqueles próximos de mim e não algumas pessoas que irão ler este post, mas acredito que existem pessoas por aí que passam pelo mesmo (e assim sabem que não estão sozinhas) e acho que existem pessoas que precisam de perceber que ansiedade é uma coisa real e que não é algo que alguém inventa para se desculpar de não estar tantas vezes presente.
Para mais informações acerca deste assunto, ver aqui.  Ver ainda as fotografias que Joy Katie Crawford fez para ilustrar o transtorno de ansiedade de que ela própria é vítima há anos.

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